
Com certeza você já deve ter ouvido falar, visto ou até mesmo usado – ainda que sem saber – as aspas. Esse sinal gráfico representado pelo símbolo (““), simulável inclusive com os dedos das mãos, possui uma capacidade a nível de sentido, na nossa língua, colossal.

As aspas nada mais é que um sinal utilizado para destacar algo num enunciado, fala ou texto. Podemos sublinhar uma citação, ou seja, uma fala que não é nossa; uma obra, livro ou um filme por exemplo; uma gíria, estrangeirismos, e até mesmo neologismos; e, sobretudo, expressões com sentido figurado, como ironias ou sacarmos.
No caso desse último, o sinal gráfico faz-se ainda mais importante, dado que na escrita tais figuras de linguagem não têm o recurso do contexto audiovisual para se fazer perceptível.
As aspas, assim como todos os nossos sinais gráficos têm uma intenção, não são recursos estéticos de escolha aleatória. Precisam ser usadas adequadamente, principalmente, quando queremos sobrepor um universo paralelo ao literal para o leitor (ouvinte) e fazê-lo entrar numa natureza resguardada pelas aspas.
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Mas como assim?
Bem, é necessário ter a permissão de quem fala para entrar no universo protegido por esse sinal de pontuação; é uma porta, uma proteção. O sentido não é compreendido a olho nu, mas interpretável nas entrelinhas.
O mundo entre as aspas é muito mais nosso. Tem muitos mais sentidos e possibilidades. Um: gosto pouco de você, poder-se-ia tornar: gosto “pouco” de você e teríamos uma declaração digna de borboletas na barriga.
Se soubéssemos o poder incumbido ao uso desse sinal, estudávamo-lo já; tornávamo-nos “experts” (olha a metalinguagem aqui) na sua utilização.
Acho que faltam aspas nas nossas vidas.
A esfera dos poetas é assim; dos apaixonados, dos filósofos, dos religiosos. O mundo é muito mais humano quando o colocamos dentro das aspas. As aspas figurativizam as palavras. É a possibilidade dada pela língua de construirmos uma realidade paralela, sem ser necessário criar uma imaginária.
— LEIA também de Alessandra Corrêa: Gerundismos: vícios de linguagem.
Criar outras perspectivas para ver o mundo.
Sair da realidade. Não para negá-la, mas para desconstruí-la; reconstruí-la – e destruí-la se for preciso.
Dentro das aspas podemos afirmar o negativo, negar o positivo; chorar quando estamos rindo; rir quando estamos a chorar. Questionar quando estamos afirmando; corrigir quando vamos acalentar. Abraçar quando estamos recriminando; e amar quando estamos a odiar.
As aspas não é a coisa, é a ideia que fazemos dela; as aspas não é o que se diz, mas o que esperamos que entendam; as aspas não é o posto, é pressuposto. As aspas são assim, é o gostar ilegítimo, o espúrio do saber, a liberdade da existência, pois, e já que estamos falando do seu uso: Viver não é necessário. Necessário é criar. Fernando Pessoa.
— * Alessandra Helena Corrêa, santarena, é graduada em licenciatura plena em Letras (Ufopa). Faz mestrado atualmente em Estudos Literários, Culturais e Interartes na Universidade do Porto, Portugal, onde reside. No Instagram: @alehhelena.
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Quando crescer quero ser assim.😊👋👋. Maravilhosa suas palavras.
Parabéns vç como sempre e maravilhosa😍😍
Um show de conhecimento! Uma aula grátis.
Parabéns querida 😚