
Já há comentários pelas ruas de Alenquer sobre uma possível mudança no Círio de Santo Antônio, padroeiro católico da cidade. Seguindo o formato dos círios de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, e de Nossa Senhora da Conceição, em Santarém, o círio na cidade ximanga teria um percurso padrão.
A tradicional procissão, que acontece todo dia 1º de junho, teria um único itinerário, saindo da igreja São Sebastião, no bairro Aningal, provavelmente ando pelo bairro Planalto, onde fica a igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, ando também pelo bairro Luanda, onde fica a igreja São Benedito, chegando à igreja matriz Santo Antônio, no bairro Centro.
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Essa cogitação já foi comentada por muitos fiéis e comunitários da cidade. Enquanto algumas pessoas ficaram pensativas sobre essa possível padronização, muitos moradores se posicionaram contra essa tentativa de mudança. É um questionamento que, se fosse levado adiante, poderia levar a uma boa discussão na paróquia da cidade junto às comunidades.
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Afinal de contas, seria mesmo certo que a procissão tivesse um percurso único todos os anos ou seria importante permanecer o atual formato, no qual a cada nova edição uma comunidade de uma área de missão diferente receberia o círio?
Além de ser um município com poucas dimensões na área urbana, com mais de 15 bairros, a saída do círio de uma comunidade diferente tem um significado muito especial aos fiéis católicos de Alenquer, especialmente dos bairros que ficam distantes do Centro, na chamada área periférica da cidade.
A tradicional procissão movimenta a economia do município com os devotos que compram materiais para ornamentar as ruas por onde ará, mobiliza os vendedores ambulantes, que acompanham a caminhada oferecendo para venda lembranças, objetos variados, geladinhos, salgados, entre outros, reúne a imprensa local e da região para fazer as reportagens e leva muitas pessoas a realizarem ações sociais, como distribuição de água, além de muitas outras atividades.

Recordando as últimas edições, o Círio de Santo Antônio já saiu, no ano de 2021, da comunidade Santo Expedito, no bairro Jardim da Praia; em 2022, da comunidade Santa Isabel da Hungria, no bairro Aningal; em 2023, da comunidade Santa Bárbara, no bairro Jardim Monteiro; em 2024, da comunidade São Miguel Arcanjo, no bairro Grande Vitória.
Com exceção do Aningal, que é um dos mais antigos de Alenquer, os outros bairros citados são lugares distantes e com poucos anos de existência, se comparados à história da cidade. Esses lugares possuem uma quantidade considerável de moradores em condições de pobreza e até de extrema pobreza, onde se costuma realizar ações sociais, além dos trabalhos da igreja evangelização.
ando por um bairro pobre, o círio faz com que aquele lugar tenha mais visibilidade, tornando-se a “atração do momento”, já que ele é divulgado pela equipe da Pastoral da Comunicação (Pascom) e pelos diversos meios de comunicação, como rádio, TV e sites ou blogs na internet.
Os bairros periféricos não têm nenhum tipo de pavimentação, e a possibilidade do círio ar por um desses bairros leva o poder público do município a dar uma atenção mais que especial, como revitalizar as ruas do itinerário, muitas vezes intrafegáveis, e fazer com que os visitantes conhećam aquela realidade.
É até satisfatório para muitos moradores desses ambientes periféricos ter o seu bairro escolhido para ser o ponto de partida de uma procissão, que vai muito além de uma simples caminhada. É um acontecimento que, como se vê, não exclui ninguém, mas abraça a todos, ficando sempre os registros fotográficos e as filmagens de quem mora ou está visitando o lugar.
Uma das essências do Círio de Santo Antônio de Alenquer está justamente na expectativa em saber qual comunidade será escolhida para receber o importante evento, que dá início à trezena da maior festividade ximanga, que vai do dia 1º ao dia 13 de junho, época “mais animada” da cidade e que mais recebe turistas.
O círio de 2025 sairá da comunidade São Raimundo Nonato, no bairro Patrimônio, um lugar que para muitas pessoas ainda é desconhecido, mas que está sendo o centro das atenções de todos aqueles que caminharão uma longa distância, levando a centenária imagem de madeira de Santo Antônio do pequeno bairro, numa igrejinha simples, até a igreja matriz.


❒ Silvan Cardoso é poeta, cronista e pedagogo nascido em Alenquer, no Pará. Escreve regularmente no JC. Leia também dele: Alenquer, 143 anos: quem come seu acari não quer mais sair daqui. E ainda: Canhoto, o dono do lanche que virou point em Alenquer; vídeo.
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