
Faleceu, no início deste mês (dia 4), o ambientalista Cássio Beda, 36 anos, vítima da intoxicação por mercúrio oriundo de garimpo ilegal na região Norte do pais., informa o site Brasil de Fato.
O também indigenista viveu no Alto Tapajós por dois anos apoiando o povo Munduruku e acabou desenvolvendo a Síndrome de Minamata de forma aguda.
“Eu fiquei bastante tempo na cidade de Itaituba (PA), neste período de 2016, e eu comecei a sentir alguns sintomas de fraqueza, principalmente nas pernas. Eu tinha dificuldade para subir e descer escadas, comecei a sentir as mãos e pés adormecerem e ei a ter mais câimbra”, explicou o ambientalista no documentário “De Minamata ao Tapajós: um alerta sobre a contaminação de mercúrio na Amazônia”, produzido em 2017.
Com dificuldades de locomoção e na fala, ele contou que em Santarém não há estrutura de equipamentos e médicos especialistas que possam identificar a doença. Seu diagnóstico foi registrado somente em São Paulo, quando ficou 10 dias internado realizando uma bateria de exames.
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“Em Santarém, sabíamos apenas que uma das hipóteses era a presença de metal pesado no organismo. Nessa época eu ainda andava sem ajuda, estava bem melhor que hoje. Houve uma dificuldade grande de fazer o diagnóstico, mas hoje sabemos que foi intoxicação pelo mercúrio através da exposição e consumo de peixes contaminados”, explicou na época.
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Beda não consumia carne vermelha ou de frango, então boa parte da sua alimentação era composta por peixes da região. Ele foi classificado com provável esclerose lateral amiotrófica – ELA, doença sem cura e progressiva que leva à morte em poucos anos. Cássio foi o 15º paciente com ELA que perdeu a vida em decorrência da contaminação por mercúrio.
A Síndrome de Minamata causa dormência e formigamento nas mãos, pés e boca; fraqueza; dificuldade de caminhar; descoordenação motora; descontrole dos reflexos; insônia; embaralhamento e problemas de movimentação nos olhos, surtos psiquiátricos e agitação generalizada.
Beda era tecnólogo em Saneamento Ambiental pela Unicamp e mestre em Ciências pelo programa de Saúde Pública da EERP/USP. Antes de falecer, ele explicou que seu caso era considerado agudo porque houve um grande consumo de peixes contaminados em pouco tempo. Na região, alguns dos peixes com maior contaminação são tucunaré, dourado, filhote, sarda e surubim.
Já os moradores nativos da região, geralmente apresentam um quadro crônico, uma vez que consomem menos peixes, com intervalo maior, mas por mais tempo. Ele demonstrava grande preocupação também com as mulheres grávidas e seus bebês, que são diretamente afetados pelo mercúrio na região.
Mercúrio: impactos nos povos da floresta
Pense na água que você bebe e que usa para tomar banho. Pense também na sua comida, suas frutas, legumes e verduras. Preste atenção ao solo onde você pisa e ao ar que você respira. Agora, imagine tudo isso contaminado por mercúrio, substância tóxica para humanos. Essa é a realidade de todos os indígenas da etnia Munduruku na região do médio Tapajós, no Pará.
Em dezembro de 2020, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre os impactos do mercúrio em áreas protegidas e nos povos da floresta Amazônica revelou que 100% dos indígenas Munduruku estão contaminados pelo mercúrio do garimpo.
A substância é utilizada no garimpo do ouro para facilitar o processo de separação de partículas e é tóxica para a vida humana e para o meio ambiente. Metal pesado altamente tóxico, os danos causados pela contaminação com mercúrio costumam ser graves e permanentes.
Vítimas da atividade garimpeira há mais de 70 anos, os indígenas do território localizado no médio rio Tapajós, entre os municípios paraenses de Itaituba e Trairão, enfrentam uma situação grave de abandono e negligência.
Com informações do Brasil de Fato
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