
A Câmara Municipal de Santarém (PA) vulgarizou a entrega da Comenda do Mérito Nossa Senhora da Conceição.
Instituída a honraria em 2016, por decreto legislativo de iniciativa da então vereadora Ana Elvira Alho, propunha-se homenagear anualmente não mais que “quatro pessoas e/ou instituições que tenham prestado relevantes serviços no Município de Santarém”.
Embora silente o decreto legislativo acerca da natureza do serviço prestado, mas considerando o nome da distinção honorífica e a intenção do legislador (“em homenagem à Padroeira dos santarenos”), sempre se compreendeu que são labores na seara das manifestações socioculturais católicas, especialmente em razão dos festejos da patrona da Arquidiocese de Santarém.
Daí, então, a data da entrega: “na quinta-feira que antecede o Círio”.
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Funcionou adequadamente de 2016 a 2021, sempre com quatro homenageados. Ressalte-se que, em 2020, a pandemia impediu a realização da sessão solene.
De 2022 para cá começou a barafunda. Naquele ano, quatro agraciados receberam a medalha, e vinte receberam um certificado. Tudo com o mesmo peso. São todos comendadores de Nossa Senhora da Conceição.
Essas duas dezenas que receberam apenas certificados deveriam exigir que a Câmara Municipal lhes entregue também a medalha. Isto porque, em 2023 e 2024, todos os benditos receberam o galardão. Novamente, mais de vinte condecorados a cada ano.
Pergunta-se: em 2022 faltou dinheiro ou tempo para cunhar o emblema?
Além da desmesurada indicação de nomes pelos edis, outro sinal lamentável de vulgarização é o não controle da lista de louvados, cujos nomes deveriam ser inscritos em livro próprio.
Em apenas oito edições de entrega da comenda, há pessoas e instituições que já a receberam por duas vezes, conforme os decretos legislativos publicados no portal da Casa de Leis de Santarém. Veja-se:
- Maria do Socorro Silva Lima (2017/2024);
- Movimento de Cursilhos de Cristandade (2018/2023);
- Ir. Maria Ivone Barbosa (2019/2023);
- Pe. Arilson Lima da Silva (2023/2024).
“Tanta corrente de ouro, seu moço, que haja pescoço pra enfiar”, cantaria Chico Buarque. Mas os pescoços existem. São tantos a cada ano que não demorará para que não reste mais ninguém a incensar.
Por fim, é risível saber que pessoas que nunca deram contributo algum para a festa da padroeira – inclusive integrantes do clero – estejam por aí ostentando seus divinos broquéis.

➽ Renisson Luís Vasconcelos. É santareno, servidor público e advogado. Leia também dele: Arcebispado em Santarém: análise dos motivos.
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Será que deram uma comenda em vida para o cantor Ray Brito ou in memoriam para alguém da família dele? Afinal, o hino da padroeira está eternizado na voz dele.