Nossa bandeira já foi vermelha, e a camisa da seleção brasileira também. Por Silvan Cardoso

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Nossa bandeira já foi vermelha, e a camisa da seleção brasileira também. Por Silvan Cardoso

Após a polêmica revelação do site inglês Footy Headlines, afirmando que o segundo uniforme da seleção brasileira para a Copa do Mundo de 2026 seria vermelha, substituindo a histórica camisa azul, houve muitas manifestações por parte da população, dos especialistas esportivos e até de políticos locais.

Em pesquisa levantada pela Quaest nos dias 28 e 29 de abril, houve 90% de reações negativas para a suposta camisa vermelha.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por sua vez, publicou uma nota dizendo que as imagens publicadas “não são oficiais”, reafirmando seu compromisso com o estatuto da entidade, no qual prevê que a seleção só poderá usar uniformes com as cores existentes na bandeira, ou seja, verde, amarelo, azul e branco.

Há também a possibilidade de usar a camisa com outras cores, mas quando se trata de uniforme comemorativo. Ainda assim, sob a aprovação dos membros da CBF.

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Toda essa polêmica, inclusive, reflete na bipolarização atual da política no Brasil, sendo a cor relacionada ao comunismo e à estrela vermelha, símbolo do Partido dos Trabalhadores, vindo às redes sociais a famosa frase “nossa bandeira jamais será vermelha”, afirmada tanto por políticos como pelos cidadãos contrários à suposta nova camisa.

Entretanto, se formos pesquisar mais sobre a história do Brasil veremos que a cor vermelha já fez parte da sua bandeira, especialmente na época colonial, entre 1500, quando Pedro Álvares Cabral aqui chegou, até 1822.

A primeira bandeira hasteada em terras tupiniquins foi a bandeira da Ordem de Cristo, trazida pelos navegantes. A bandeira branca tinha como destaque a cruz de Cristo, totalmente vermelha. Depois dela, outras 8 bandeiras com a presença da cor vermelha fizeram parte da história brasileira: a bandeira Real, a bandeira de dom João III, a bandeira do domínio espanhol, a bandeira da Restauração, a bandeira do Principado Brasileiro, a bandeira de dom Pedro II, de Portugal, a bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve e a bandeira do Regime Constitucional.

Porém, com menos destaque, entre 1822 e 1889, a bandeira Imperial do Brasil ainda carregava consigo alguns elementos com a cor vermelha, que eram vistos nos detalhes do desenho da coroa do Império, na figura do ramo de café e na cruz de Cristo, que ficava dentro do brasão.

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Outra curiosidade interessante, contada pelo Guia dos Curiosos em 2017, revela que a bandeira brasileira, logo no início da república, já teve uma estrela vermelha de cinco pontas, algo até inimaginável!

De acordo com o site, a história é levada à tona no livro do jornalista Laurentino Gomes, de 2013, intitulado “1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da monarquia e a proclamação da República no Brasil”.

De acordo com o Laurentino Gomes, em 17 de novembro de 1889 (dois dias após a proclamação da República), o comandante Custódio José de Melo, do cruzador Almirante Barroso, durante uma expedição, foi notificado de que deveria adotar o seguinte procedimento em relação à bandeira imperial: substituir a coroa existente na bandeira por uma estrela vermelha, até que uma nova bandeira oficial fosse levada à tripulação.

Diferente dos dias de hoje, o vermelho no início da República lembrava o tradicional barrete frígio, um chapéu utilizado na Revolução sa em 1789, evento que influenciou os republicanos brasileiros.

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E a camisa da seleção brasileira pode ser vermelha? Bem, a já camisa teve essa cor em três jogos!

Os dois primeiros jogos foi no Campeonato Sul-Americano de 1917, numa derrota para a Argentina e numa goleada sobre a seleção chilena. A terceira vez foi numa vitória sobre o Peru, mas no Campeonato Sul-Americano de 1937.

Diferente do que muitos pensam, nem sempre a camisa da seleção foi verde e amarela. A partir de 1914, a seleção jogava com o uniforme inteiramente branco. Com o ar do tempo, ou a experimentar outras tonalidades, que envolviam as cores atuais da bandeira.

O uniforme azul surgiu em 1938, para uma partida contra a seleção polonesa, que também jogava de branco. O uniforme branco da seleção brasileira seria definitivamente aposentado após a histórica derrota para o Uruguai na final da Copa de 1950, em pleno estádio do Maracanã.

Mas todo esse assunto de cor não é apenas assunto político-partidário. O vermelho tem a sua história tanto nas bandeiras anteriores à atual bandeira nacional como no próprio uniforme da seleção de décadas atrás.

Dizer que a camisa “sempre foi verde e amarela” é desconhecer ou ignorar muitas histórias sobre o país e sobre a sua seleção. Mas a camisa vermelha tem uma história mais breve e menos vitoriosa que a camisa verde e amarela e a camisa azul, que levantaram muitas taças, incluindo cinco Copas do Mundo.


❒ Silvan Cardoso é poeta, cronista e pedagogo nascido em Alenquer, no Pará. Escreve regularmente no JC. Leia também dele: Alenquer, 143 anos: quem come seu acari não quer mais sair daqui. E ainda: Canhoto, o dono do lanche que virou point em Alenquer; vídeo. Assim como: Benedicto Monteiro, 100 anos: saga política e literária.

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