
As coisas tangíveis, tornam-se insensíveis à palma da mão (Carlos Drummond de Andrade)
Falar sobre pai e mãe e tentar definir essas duas palavras é sempre uma tarefa (muito) difícil.
Não pelos seus conceitos já bastante conhecidos e verbalizados por todos, sobretudo nas suas famosas datas comemorativas.
Também não pela intimidade que já temos com esses dois indivíduos que até faz parecer fácil defini-los.
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Mas pela zona do comum – do “mais do mesmo” onde sempre vamos cair.
Hoje, quando decidi vir vos falar, novamente, sobre esses dois seres que tanto me impulsionam à escrita pensei justamente nisso: evitar o que já é trivial.
- Leia também de Alessandra Corrêa: Telegráficos, a comunicação dos nossos tempos.
Não que o comum seja ruim; não que o que eu vou vos dizer já não seja por vós conhecido. Não.
Mas para que essas poucas linhas não se esvaem em mais um conjunto de frases feitas, slogans de comerciais, poemas de escola ou refrões de músicas radiofônicas.
Contudo, hoje os conceitos que vos trago nem sequer de mim partiram, ou por mim foram criados – longe disso; mas retomá-los é no fundo uma visita a mestres eminentes do ado.
Conceituar o amor não é tão simples quanto possa parecer, tão óbvio como pode se propor, tão claro como desejávamos ser.
Conceituar o amor é uma queda constante e quase necessária no reino atômico do desconhecido.
Conceituar o amor é definir aquilo que a natureza não concebeu em células, não revestiu de oxigênio e não formatou na biologia da existência.
Mas conceituar o amor é a maneira, e talvez a única, de representar as figuras parentais de pai e mãe sem que banalizemos o sentimento.
É quando o físico grita mais alto sobre a pele invocando o abraço.
Quando os olhos se recusam às fotografias e pedem o 3D do contato visual.
É quando os ouvidos já não querem mais representações eletrônicas das vozes e desejam o toque dos sons que se sentem.

Quando as narinas aspiram aspirar o amor que se exala dessa atmosfera umbilical.
Na etimologia das palavras, pai e mãe significam aqueles que geram; o responsável biológico pelo nascimento de outro ser.
Num conceito mais social dos termos esse gerar ganha um sentido mais profundo – se é que pode haver algo mais profundo do que fazer surgir uma vida – socialmente pai e mãe são aqueles que irão educar e orientar o indivíduo que geraram.
Dão a vida e ensinam a viver!
Apesar da primeira parecer mais simples, e até mais “natural”, do que a segunda, as duas “funções” dos pais não têm nada de fácil…
Gerar vida, biologicamente, tem a ver com um conjunto de fenômenos que ocorrem dentro da gente e permitem que assim aconteça.
Gerar vida, socialmente, tem a ver com um conjunto, maior ainda, de fenômenos que ocorrem fora da gente e fazem de nós um ser.
No dom da criação esse ser vem antes do existir.
O desejar vem antes do querer.
O questionar antes do perguntar.
Já no conceito do amor a duração será sempre curta.
A distância será sempre longa.
O nada será sempre muito.
E o muito nunca vai ser nada!
Assim,
Eis os conceitos
Eis o amor…
Mais uma obra de excelência!
🙂