Uma segunda-feira marcada por sangue em Santarém

Publicado em por em Artigos, Ronda Policial, Segurança Pública

por Felipe Bandeira (*)

sangue, felipe bandeiraA última segunda feira foi marcada por sangue em Santarém. O clima na cidade era de terror. As ruas vazias, as lojas vazias, a cidade quase parou. A cada instante se noticiava nas redes sociais a morte de mais um.

A morte da subtenente Silvia Margarida Campos de Sousa, 44 anos, que havia acabado de encerrar o expediente, e ainda fardada caminhava na rua Plácido de Castro, e as inúmeras mortes na cidade foi algo lamentável.

Em meio a tanta dor, faço este artigo para problematizar a banalização da violência nas cidades brasileiras. Não acho que bandido bom é bandido morto, muito menos que a solução para segurança pública seja a deflagração de uma guerra encarniçada.

Estados como o Rio de Janeiro e São Paulo, e mesmo Belém e Manaus, para ficar nos exemplos próximos a região, são a mostra viva que este modelo de segurança pública está esgotado. Segundo dados da própria ouvidoria da PM de São Paulo, o número de mortes no estado é maior do que em muitos países.

Em oposição a isso, a violência só tem aumentado, fruto da omissão do Estado em promover políticas públicas. A educação é precarizada, a saúde está em vias de definhamento, a seguridade social está sendo privatizada, associada a quadro crônico de corrupção. Enquanto a prioridade for construir mais presídios e menos escolas, o “terror” só aumentará.

Por outro lado, precisamos superar essa lógica de guerra. Infelizmente o sistema de segurança pública é formado para combater o “crime” de uma forma muito dura, onde se observa um claro recorte de classe e raça.

Quase 80% da população carcerária brasileira é composta por negros, com idade entre 18 e 30 anos. Temos a quarta maior população carcerária do mundo, talvez encarcerando mais negros do que em um século de escravidão.

O número de pessoas mortas certamente não tem nada haver com a eficiência da polícia. A eficiência se encontra no menor número de pessoas mortas e feridas, num trabalho preventivo.

Mas isso, obviamente depende de um conjunto de fatores estruturais, a começar pela reformulação do modelo de segurança pública, ampliando o seu entendimento – hoje infelizmente por demais estreito.

Contribui para isso, a disseminação de opiniões que semeiam a violência pela imprensa policial tão caricata do nosso município. As notícias veiculadas ontem eram carregadas de preconceito e uma consciência de guerra, incapaz de pensar a raiz dos fatos. Um jornalismo puramente sensacionalista e irresponsável.

Nem trabalhadores e trabalhadoras, nem jovens negros e pobres da periferia merecem ser vítimas da banalização do encarceramento, torturas e mortes.

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* É coordenador Geral da UES, estudante de ciências econômicas UFOPA e militante do movimento de juventude Juntos!


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É coordenador geral da União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém, militante do movimento de Juventude Juntos! e estudante de Economia.

6 Responses to Uma segunda-feira marcada por sangue em Santarém

  • Gostaria de ver a reação dessas pessoas que defendem bandidos,quando o fato acontecido fosse com algum de seus familiares,se teriam a mesma opnião, se continuariam defendendo esses tipos de comportamento.quem defende bandido, não sabe o que fala,são iguais ao que o gato enterra.

  • ISSO QUE ACONTECEU E UMA PROVA CLARA QUE NEM MESMO OS POLICIAS ACREDITAM NA JUSTIÇA DO BRASIL E DO PARÁ. A PERGUNTA QUE FICA É ONDE ESTÃO OS RESPONSAVÉIS POR ESTAS MORTE, QUE RESPOSTA A SOCIEDADE TEM DESTES CRIMES ? FICOU POR ISSO MESMO ?
    MORTE AOS FICHAS SUJAS?

  • Felipe, é preciso, como vc ressalta, repensar a política de segurança pública no país. A educação, talvez, seja um bom instrumento para dar uma guinada nessa situação falimentar. Mas não acredito que seja o único. Há outros ingredientes importantes a serem incluídos numa proposta de mudança, como por exemplo, a tolerância zero a todos os delitos, inclusive os pequenos, que acabam servindo, ante um quadro generalizante de impunidade.

  • Concordo que no Pará o desgoverno despromove as poucas boas políticas públicas do bom governo anterior, onde a segurança pública era mil vezes melhor que agora. A raiz dos problemas sociais estão nesse modelo econômico liberal ultraado que essa elite maldita liderada pelos jatenes e alckmins da vida teimam em adotar, daí esse cenário de guerra. Enquanto não se investe de fato em Educação Básica, Pública, Universal, e gratuita, além de uma reforma agrária que contemple os assentados com crédito e garantias mínimas de produção e destinação dos produtos, tudo tende a piorar nesse modelo arcaico capitalista. Enquanto nada muda a saída mesmo é construir grandes penitenciárias e concordar com o “Observador Observado”.

  • Se foram apenas delinquentes com ficha suja na Polícia que foram pro saco, a sociedade só ganha. Agora quem tá com pena, adote um bandido tipo o que matou a Subtenente ou mande flores pros malas que se foram, me erra!

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