José Saramago, único Prêmio Nobel de Literatura da língua portuguesa
por Orivaldo Fonseca (*)
Eu sou um plagiário maldito. Procuro me abrigar na sombra daqueles que ralam sob o sol e, como um carrapato aproveitador, alimento-me do sangue daqueles que fabricam o próprio sangue. Mas que fazer quando a sombra falta e quando o sangue deixa de correr quente na veia daquele que me alimenta? Morro também!
Sexta-feira, 18 de junho de 2010, faltam-me sombra, sangue e palavras para definir a falta que um desses meus plagiados me faz. Eu, que modesta e mediocremente tento me espelhar em talentos alheios e compartilho meu crime neste espaço, fico agora sem um norte que jamais poderá ser recuperado. É assim que José Saramago me deixou ao calar-se nesta sexta-feira nada santa.
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Portanto, desta vez serei mais descarado ainda. Em vez de dar-me o trabalho de adaptar suas palavras como minhas, transcreverei as suas palavras na mais absoluta essência saramaga. E não fosse o meu devotado ateísmo, eu diria que Deus se valeu de um ateu para falar aos homens.
“Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar.”
“Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.”
“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.”
“Dirão, em som, as coisas que, calados, no silêncio dos olhos confessamos?”
“Para temperamentos nostálgicos, em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é um duríssimo castigo.”
“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.”
“De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos.”
“O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.”
“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”
“O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.”
“Cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveitosa.”
“Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.”
“Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória.”
“Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.”
“Os lugares-comuns, as frases feitas, os bordões, os narizes-de-cera, as sentenças de almanaque, os rifões e provérbios, tudo pode aparecer como novidade, a questão está só em saber manejar adequadamente as palavras que estejam antes e depois.”
“O talento ou acaso não escolhem, para manisfestar-se, nem dias nem lugares.”
“Quem acredita levianamente tem um coração leviano.”
“Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro.”
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* É poeta, paraense de Belém, controlador de voo e parceiro musical de Zé Maria Pinto. Mora hoje em João Pessoa (PB).
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