O estranho desejo de Nélio Aguiar. Por Paulo Cidmil

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O estranho desejo de Nélio Aguiar. Por Paulo Cidmil
Praça Rodrigues dos Santos após a derrubada das mangueiras. Foto: MPPA

A insistência, já quase obsessão, de Nélio Aguiar em construir um camelódromo na praça Rodrigues dos Santos,  e agora, sabendo ser esse camelódromo a extensão de uma obra de maior proporção que se inicia no Belo Centro, em parte poderia explicar o empenho do prefeito em realizar o projeto, cuja consequência é dar finalidade privada a um bem coletivo. E, afinal, obras sempre contribuem com campanhas em ano eleitoral.

Mas não, existem outras razões, que talvez só penetrando na alma e mente de Nélio Aguiar seja possível entender sua luta em desfigurar a Praça Rodrigues dos Santos.

Esse caso é bem mais complexo,  parece haver um fator de fundo emocional afetivo, que a psicologia costuma identificar como um distúrbio do tipo disfunção cognitiva.

Nélio não consegue entender e aceitar a importância das referencias históricas  e culturais, que existem vestígios da ancestralidade do povo Tupaiú ou Tapajó, e também, um marco zero do que hoje chamamos de Pérola do Tapajós, nossa Santarém.

Com comportamento negacionista típico de bolsonaristas, Nélio Aguiar quer reescrever a História,  está possuído de um estranho desejo, pretende erguer um monumento à marretagem no coração de nossa principal referência da fundação da cidade. Sua insistência em erguer esse camelódromo é também o não reconhecimento de nossa história. É um caso clínico para a psiquiatria.

Deve acreditar que a pujança econômica desse lugar se  da a partir da migração nordestina que se dedicou ao comércio.  Ciclo que se inicia com a marretagem, prospera e hoje é predominante em todo comercio varejista e atacadista.

Alguém precisa orientar esse moço, profundamente equivocado, que duzentos anos antes de 1960, Santarém já era um importante entreposto comercial, em torno do qual gravitava a economia do que hoje chamamos de Oeste do Estado vizinho.

Mas, Nélio Aguiar, que poderia estar trabalhando para revitalização da  praça, dando-lhe novos equipamentos, iluminação;  removendo um bisonho estacionamento (a única praça no mundo com um estacionamento em seu interior), não esta sozinho nessa agressão criminosa, contra a nossa história.

Tem a parceria da ACES – Associação Comercial e Empresarial de Santarém, onde algum jovem engenheiro, após ver fotos de jardins suspensos em Dubai, programou uma arela viaduto sobre o centro histórico, e estão chamado isso de modernidade. arela é uma outra fixação de Nélio Aguiar.

O que a princípio parecia ser a expansão do quadro de associados, incorporando empreendedores do comércio ambulante fixados na Praça da Matriz,  ficou entendido como um ato de solidariedade, para dar dignidade a labuta dos ambulantes. Justificativa incorporada pelo prefeito e diretores da ACES, com o intuito de defender a realização da obra. Argumento que não se sustenta diante da aberração que andam chamando de projeto.

Enjaular ambulantes em espaço de 2 x 2 metros, sob sol amazônico, isso após destruir as árvores existentes que poderiam produzir algum refrigério e tornar o ambiente aprazível, não é o que podemos chamar de promover dignidade.

Nélio avança sobre um espaço histórico, que é um bem coletivo, isso após cometer crime ambiental ao destruir as mangueiras. E transforma o espaço em um lugar estéril, de asfalto e concreto, que no verão se transformará em uma fornalha.

E qual a contrapartida para os munícipes? Ali será cobrado aluguel? Irá arrecadar IPTU?

Nélio Alega que além de dignidade estará dando emprego a uma centena de famílias. Ótimo, que faça o que ele chama shopping popular em outro lugar, quem sabe não seja até mais produtivo fazer vários, de menores proporções e com boxes maiores.  

Por que não descentralizar? Conclua as obras do Porto do DER e faça um shopping por lá. Na área do Mercadão 2000 ou próximo a ele caberia outro. A Fernando Guilhon, a avenida Curuá-Una, a Nova República, Santarenzinho, Maracanã,  são excelentes opções para mini shoppings de até uma dezena de boxes.  É uma iniciativa de fomento para outras áreas da cidade, aliviando o centro histórico de tanto puxadinho.

Quer criar empregos? Implemente a guarda municipal já aprovada. Uma guarda cidadã para atuar na preservação dos espaços públicos e  de lazer, hoje todos abandonados.

Quer mais empregos? Autorize a circulação de micro ônibus ou vans coletivos no centro histórico a partir da Rui Barbosa e indo do Porto do DER até o Porto das Docas. Essa é uma reinvindicação antiga dos comerciantes dos mercados e da orla da cidade.

Organize o estacionamento em via pública com a vaga certa nas ruas do centro. Do Mercadão 2000 a Praça São Sebastião. Cadastre, credencie e uniformize os guardadores de carros.

O estranho desejo de Nélio Aguiar. Por Paulo Cidmil
As obras do camelódromo estão paralisadas por ordem judicial. Foto: Paulo Cidmil

Quer fazer um negócio legal? Crie uma feira nordestina na cidade, mas uma feira decente, respeitando as proporções, nos moldes da de São Paulo e Rio de Janeiro. Não esses puxadinhos claustrofóbicos que você e a ACES chamam de shopping popular

A cidade esta intrafegável, onde havia asfalto virou tábua de pirulito, ruas de terra batida agora são um valão.  E você, dando trabalho à Justiça, demolindo praça histórica e insistindo no erro tentando erguer um monumento à marretagem, ato simbólico de refundação da cidade, a partir do puxadinho.

Você gosta de arela? Invista na indústria da moda. Por aqui tem muita gente qualificada produzindo moda.  Essa é uma atividade econômica de enorme potencial, assim como o turismo, a cultura e a gastronomia envolvem uma ampla cadeia produtiva, geram trabalho qualificado, promovem maior circulação de renda.

As iniciativas de seu governo para estimular essas cadeias produtivas são pífias ou nenhuma. Você trabalha para os concentradores de renda e o seu corre por obras, seu e da ACES, é uma convergência de interesses: eleições e o aos recursos públicos.

Essas eleições que se aproximam serão as mais fraudulentas de nossa história. A imprensa e redes sociais falam no fundo eleitoral de 4 bilhões e 900 milhões. Mas os partidos do Centrão e Bolsonaro possuem um fundo de 30 bilhões para corromper as eleições com muita grana do orçamento secreto através das emendas parlamentares de relator. E ainda vão morder o fundo eleitoral.

Tem muita emenda sobrevoando nossas cabeças batendo à porta de prefeituras implorando por um projeto  para um acordo eleitoral. É nesse corre que vocês estão.

Aproveitem a oportunidade, acendam uma vela pra São Quinzinho, em esse crédito de ocasião e recuperem a trafegabilidade da cidade. Tá morrendo muita gente no trânsito e não há um proprietário de carro ou moto que não tenha acumulado prejuízo por conta de ruas intrafegáveis.

Não vou lhe pedir desculpas pela franqueza e quero lhe dizer que sua cara de bebê chorão não engana mais ninguém. Restaure o que  você destruiu e devolva a praça em melhores condições que a encontrou. É isso que esperamos de um bom prefeito, mas você tem se esforçado em ser ruim.

Paulo Cidmil
Paulo Cidmil

É diretor de produção artística e ativista cultural. Santareno, escreve regularmente no portal JC.

Os artigos publicados com não traduzem, necessariamente, a opinião do JC. A publicação deles é com o propósito de estimular o debate dos problemas municipais, regionais, nacionais e mundiais. Participe! Escreva! Opine! O espaço está aberto!


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3 Responses to O estranho desejo de Nélio Aguiar. Por Paulo Cidmil

  • Paulo estranho desejo é esse de dar nomes aos bens públicos e de infraestrutura pra agradar os herdeiros da global TV Tapajós.

  • Cada metro da Praça Rodrigues dos Santos é uma narrativa a ser contada ou escrita para as novas gerações. Cada monumento e cada peça é uma oportunidade de mostrar, mesmo que simbolicamente, a essência de um povo. Estar naquele lugar é vivenciar épocas que nunca se viu, mas sabe que existiu pelas histórias que os “antigos” ou historiadores nos contam e que sabe que foi por esse conhecimento que existe a atual sociedade. Lá é o embrião e o pontapé inicial da identidade santarena, tapajônica e, por que não dizer, amazônida! Cada pedaço destruído e cada árvore retirada foi uma punhalada na alma de cada morador são e/ou verdadeiro amante da cidade. Ver a Praça Rodrigues dos Santos na situação em que está atualmente é lidar com uma imensa ferida que parece não ter cura. Até entendemos aqueles que não dão devido valor ao centro histórico de Santarém, chamando-os de “coisas velhas” ou “coisas avançadas”. Mas não há a necessidade de faltar com respeito e invadir as irações, preservações e estudos daqueles que valorizam os patrimônios locais. Patrimônios que são mais que “velharias”: são elementos indispensáveis e de incontável valor para a vida, o progresso e o futuro de cada santareno.

    1. Que comentário fantástico! Oportuno! Magistral! Parabéns, Silvan! plac, plac, plac, plac!

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