Mirante Fortaleza dos Tapajós, por Helvecio Santos

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Mirante Fortaleza do Tapajós
Mirante Fortaleza dos Tapajós, por que não?

por Helvecio Santos (*)

Como parte dos festejos dos 357 anos de Santarém, na noite de 29 de junho, com a ilustre presença da Filarmônica Maestro Professor José Agostinho, foi reinaugurada a Praça do Mirante, um dos lugares mais bonitos que temos e que merece um carinho permanente da prefeitura e dos santarenos.

Um fim de tarde, a brisa batendo no rosto, a vista dos barcos indo e vindo no Tapajós e Amazonas, rios que são nossas ruas, barrento e verde cristalino em desfile infinito, e os pescadores equilibrando-se em montarias no encontro das águas, apostando a sorte em exemplares que, logo, logo, estarão pererecando no braseiro, é um momento mágico, imperdível!

Como diz a propaganda, isso não tem preço.

“E se a noite está serena” e uma belíssima lua começa a aparecer e se agigantar ali por detrás da Ponta do Urubucuacá, com um extenso véu de noiva prateando aquele mundão de águas, a coisa deixa de ser momento mágico e sobe à categoria de apaixonante.

Aí então você será picado por esse “vírus” que impregna a alma e mesmo saindo de Santarém, ele não deixa que Santarém saia de dentro de nós.

Infelizmente, temos aí, como de resto em todo o Brasil, uns boçais que se realizam como gente depredando o que é público, isto é, de todos, razão de eu dizer da necessidade de um carinho e cuidado permanentes.

Mas isso é assunto para outra crônica e voltemos então ao Mirante.

Com a reinauguração, o nome foi trocado para Mirante Fortaleza do Tapajós.

A troca foi solicitada à Prefeitura pelo nosso Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTap) e, segundo a presidente, visa resgatar o valor histórico desse local onde outrora existiu a Fortaleza do Tapajós.

O início da construção vem da época do Império e Dom Pedro II buscava dar segurança à abertura do Rio Amazonas à navegação internacional que, com sua permissão, se iniciava.

Sabemos que o nome tapajós vem do grupo indígena Tapajó que ocupava as terras à margem direita da foz do rio Tapajós. Onde hoje fica a Praça Rodrigues dos Santos era o centro da aldeia da tribo Tapajó.

Da análise do nome, Fortaleza do Tapajós, penso que era uma referência ao nosso belíssimo rio, por se achar localizada justamente num altiplano à margem direita de sua foz.

Assim, como disse a presidente do Instituto, o nome Mirante Fortaleza do Tapajós é um resgate à nossa história, o que é importantíssimo apesar de, com todo respeito, entender que desperdiçamos uma belíssima oportunidade.

Hoje temos um sonho que aos poucos se aproxima da realidade, que é nos tornarmos Estado do Tapajós, cortando o vínculo legal que nos liga ao Pará e nos obriga a nos identificarmos como paraenses.

Precisamos de marcos que nos identifiquem como Tapajônicos ou Tapajoaras, como prefiro. Já temos cores, já temos bandeira, já temos símbolo e, principalmente, temos sentimento.

Então, por que não chamarmos Mirante Fortaleza dos Tapajós? Somos descendentes desses índios, somos tapajós.

O mirante não seria do rio, mas do povo, o povo tapajós, descendentes da tribo Tapajó.

O nome Mirante Fortaleza dos Tapajós levaria a algo maior, mais completo, ao povo Tapajoara, aos Tapajós, a todos nós.

Seria mais um marco a contribuir para a concretização do nosso sonhado Estado do Tapajós.

Certamente os visitantes iriam perguntar o por quê do nome dos Tapajós, e aí seria a oportunidade de vendermos o “nosso peixe”, explicando sobre o povo Tapajó, da nossa descendência, do nosso anseio de separação, e que o nome não era referência ao rio, mas ao povo, razão do nome, MIRANTE FORTALEZA DOS TAPAJÓS.

Mas a renomeação e o consequente resgate é louvável. Parabéns a todos nós, povo Tapajoara! Parabéns Santarém, nossa capital!

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* É advogado e economista santareno. Reside no Rio de Janeiro, onde escreve regularmente para este blog.

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Que venham as árvores!


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4 Responses to Mirante Fortaleza dos Tapajós, por Helvecio Santos

  • Segundo o jornalista Reinaldo José Lopes, no livro 1499 O Brasil antes de Cabral, existia em Santarém uma cidade-estado, o maior povoamento indígena das Américas, com uma cerâmica sofisticada, comparada à européia. Apesar do solo pobre, aqueles povos trabalhavam a terra para o plantio, deixando uma terra bastante conhecida dos santarenos, a “terra preta”, uma terra cara utilizada nos jardins de Santarém. Mirante Fortaleza dos Tapajós, é grandioso.

  • Muito bem colocado, Helvecio! E a denominação “dos Tapajós” dá mais sonoridade e força ao Mirante. Quanta diferença se sente trocando o singular pelo plural! A idéia da coletividade, a união de muitos, a lembrança dos guerreiros ancestrais…. Parabéns pela percepção dessa justificativa histórica que dá mais sentido ao local.

  • Meu Caríssimo Helvécio Santos.

    Permita-me, faço minhas, vossas palavras.

    Coaduno-me com seu belíssimo texto iluminado, Integralmente.

    Meus parabéns…….

  • Concordo plenamente com as colocações, principalmente quando se fala que o povo Santareno já se sente Tapajoara e isso é muito forte e profundo!

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