A onda moralista que impregnou a campanha eleitoral, disseminada a partir do discurso de Jair Bollsonaro, está obstruindo qualquer possibilidade de uma discussão política saudável sobre os programas de governo dos candidatos à Presidência.
Como ocorreu com a eleição de Fernando Collor, Bollsonaro, velho e calejado político, surge como o messias salvador da moral, dos costumes e da família tradicional.

E não apenas isso. Ele é o candidato que irá destruir os corruptos com duas ou três canetadas ao sentar na cadeira presidencial. Assim como Collor, caçará todos os marajás.
A classe média, desinformada, alimentada pelos meios de comunicação de massa que há anos disseminam a esquerdofobia, sequer se deu conta de quem seja Jair Bollsonaro.
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Seu discurso raivoso encontrou ressonância em parcela da população que se sentia órfã da ditadura e foi ganhando amplitude com o agravamento da insegurança pública nas grandes e médias cidades brasileiras.
Ouve suas bravatas e as mentiras que viralizam sobre kit gay, Brasil virar Venezuela, bolsa-presidiário, escola sem partido, comércio exterior sem viés ideológico… Como se fosse possível para uma economia capitalista do tamanho da brasileira exportar observando viés ideológico.
Em seu discurso limitado a chavões, Bollsonaro diz que luta pela família tradicional, em defesa dos homens de bem e contra a bandidagem.
Todo cidadão de bem tem direito a portar uma arma. Exterminará os esquerdopatas. Todas as ONGs serão investigadas e não terão um centavo do governo. Minoria tem que seguir a maioria. Bollsonaro seria um excelente apresentador de programa policial desses que chamamos de lixo.
Elle esquece que milhões de lares do povo brasileiro não são o que elle chama de família tradicional, a imensa maioria tem uma mulher como chefe de família.
Imagino que deverá chamar o bispo Edir Macedo para nos dizer quem são os homens de bem.
Em seu discurso de ódio não existem direitos humanos, movimento social é terrorismo, índio não tem direito a terra, quilombolas são medidos por arrouba, gays devem levar porrada e políticos são corruptos, exceto ele, sua família e os seus seguidores.
Mas quem é Bollsonaro? Quem o financia? Qual sua base de apoio político?
Construiu sua carreira política defendendo interesses corporativos dos militares. Isso o levou a Câmara Federal por 7 mandatos consecutivos.
Em 28 anos nunca apresentou projeto ou proposta para a segurança pública do Rio de Janeiro. Agora diz que irá por fim a insegurança no Rio assim que assuma a Presidência (uma de suas idéias é metralhar a Rocinha).
Em toda sua carreira aprovou apenas dois projetos na Câmara, o que evidencia sua inabilidade para negociar com o Parlamento.
Nesse mesmo parlamento é protagonista de cenas deploráveis para democracia, como agressões verbais a colegas e jornalistas, no caso, seu alvo foram mulheres.
Sempre depreciou o regime democrático culminando com o elogio à tortura, feito do plenário da Câmara, cena que se reproduziu nos telejornais de todas as partes do mundo.
Precursor da Bancada da Bala, percebeu que podia alçar vôos mais altos ao defender o fim da maioridade penal, a liberação do porte de armas, os governos da ditadura militar e o ataque a direitos de minorias.
Assim, se foi construindo o “mito” junto ao eleitorado mais conservador.
Eleitor que condena nos outros, mas prefere não saber que Bollsonaro recebe auxílio-moradia mesmo possuindo casa em Brasília (segundo elle, para comer gente).
Que possuiu um patrimônio considerável para um capitão reformado, adquirido com o exercício da política, política que Bollsonaro cinicamente criminaliza.
Ele emerge desse lodaçal intitulado baixo clero que habita as entranhas do chamado centrão. Parlamentares sem identidade ideológica e de perfil moralista conservador, que sempre venderam seu voto no balcão de negócios da Câmara.
Mas quem sustenta a campanha de Bollsonaro, que espalha material de divulgação em todos os 5.570 municípios do país?
Quem banca uma azeitada rede de milhares de robôs viralizando milhões de noticias falsas por minuto?
Politicamente Bollsonaro tem sustentação na bancada BBB – Bala, Bíblia e Boi. (Nessa eleição emergiu das urnas outro B, bancada Bollsonaro).
Militares que defendem a liberação de armas, os negócios das empresas de segurança privada e o “bico” de militares da ativa nessas empresas. A grande maioria delas, de propriedade de militares e ex militares.
Religiosos que defendem a não tributação de suas seitas e pretendem legislar sobre costumes e educação formal em nome da moral religiosa.
Deliram sobre a re-fundação de uma nação cristã evangélica (palavras de bispo Edir Macedo) em acintosa agressão ao Estado Laico, revelando anseios fundamentalistas.
Ruralistas ligados ao agronegócio que pretendem revogar a já fragilizada legislação ambiental, avançar sobre terras devolutas, reservas indígenas e ecológicas ampliando o processo já exacerbado de grilagem.
Apoiam a liberação das armas para armar os patrões do campo.
Revogação de leis ambientais e liberação de armas serão uma catástrofe para a floresta e populações amazônicas.
Mas não são apenas estas as forças que dão sustentação financeira a campanha eleitoral de Bollsonaro.
Mineradoras do país e o capital que financia a mineração clandestina na Amazônia. A indústria armamentista e parte considerável da comunidade judaica nacional, estão apoiando Jair Bollsonaro.
Aqui há uma convergência de interesses. A igreja de Edir Macedo, o principal cabo eleitoral de Bollsonaro, e sua teologia da prosperidade, seguindo uma tendência dos protestantes e neopentecostais americanos, vem promovendo uma aproximação teológica com a religião judaica. Por isso, o Templo de Salomão em São Paulo e a encenação do bispo como se fora Moisés.
Bollsonaro foi levado por bispos evangélicos a Jerusalém, onde “converteu-se” e se batizou. Logo após iniciou uma série de declarações sobre os avanços tecnológicos de Israel. Enumero as principais pela relevância econômica e política.
Irá adquirir todo o armamento e tecnologia de segurança para as forças armadas e policias militares da industria bélica de Israel. Negócio de bilhões de dólares.
Irá transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, reconhecendo a cidade sagrada como capital do Estado de Israel. Uma afronta ao mundo Árabe que só Donald Trump, não por acaso também financiado pela industria armamentista, teve a inabilidade de fazer, entre todas as nações da ONU.
A besta caminha assentado sobre quatro patas que financiam sua propaganda país à fora.
Os apropriadores de terra, banda podre do agronegócio, para ampliar a grilagem sobretudo na Amazônia.
As mineradoras, de olho no subsolo de terras indígenas e reservas nacionais.
Os exploradores da fé popular, para manter os seus negócios com a fé fora do controle do Estado e realizar seus anseios fundamentalistas.
A indústria armamentista,de olho na venda de armas para civis. E a comunidade judaica mais conservadora, à espera da transferência da embaixada brasileira para Jerusalém.
Não bastasse estarmos sob a ameaça de viver sob uma juristocracia que atropela direitos constitucionais e o código penal brasileiro, agora nos vemos ameaçados por um Estado teocrático, gestado por evangélicos que não aceitam o Estado Laico.
As igreja Universal, Assembleia de Deus e outras denominações, capitanearam uma imensa vigília por todo o país, no sábado, véspera do primeiro turno, mantendo as ovelhas concentradas, saindo das igrejas para os locais de votação com a “cola” de Bollsonaro e de candidatos evangélicos.
O povo brasileiro não merece viver mais 4 anos de pesadelo com a retirada de seus direitos sociais, degradação ambiental, ameaça aos direitos civis, acirramento da violência nas cidades e principalmente no campo. Religiosos ditando regras na educação formal e arroubos autoritários de militares atrasados e revanchistas.
A grande imprensa agora relativiza, buscando uma neutralidade que não cabe no grave momento que vivemos. Atônitos dizem que são dois extremos que antagonizam. Arnaldo Antunes em texto poema visceral pergunta: “Onde estavam nos 3 mandatos e meio antes do pesadelo Temer? Estavam numa ditadura comunista e não sabiam?”
Eu me pergunto o que pensavam as corporações jornalísticas e o PSDB quando deram sustentação midiática e política a aventura de um golpe parlamentar.
Plantaram intolerância à democracia e colheram Bollsonaro. Agora tomem partido, antes que a mordaça lhes cale e a liberdade de expressão seja uma frase vazia impronunciável.
Ainda Haddad!
— * Paulo Cidmil, diretor de Produção Artística e Ativista Cultural. Escreve regularmente neste blog
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A crise histérica da Globo e a lebre do Judiciário, por Paulo Cidmil
A cadela do facismo está sempre no cio…..sempre acompanhada dos bolsopitbuls !!!!
tem muita garotada, muitos negros e negras, muitas mulheres muitos catolicos e, professores ( e pasmem professores universitários ) que vão unhapilly votar no coiso… o discurso do haddad ainda não conseguiu atingir urbi et orbi e ampliar este público… a sua comunicação ainda guarda um ranço acadêmico…. diferentemente do discurso do coiso… e o comunicador master do brasil já advertia ” quem não se comunica ,se trumbica” e quem se comunica mal , se trumbica mais ainda… easy this way….
A coisa do Coiso é mais grave e mais profunda. Há um movimento mundial de ascensão do neofascismo, da ultra direita. Que, com certeza, interessa ao grande capital. Dêem uma olhada:
https://www.youtube.com/watch?v=IiQWIgP3-x4&feature=youtu.be
Faltou ao cientista politico explicar porque grande parte da garotada que não conheceu a ditadura e com certeza votou no Pt e vaiou o ex- crooner do Pink Floyd?
não me consta que uma banda dos anos 60 com seu auge nos 70 possua um publico formado por garotada. Fosse a Beyoncé ou o Justin Timberlake eu ficaria quieto.
Em dias de shows desses artistas no rock rio o que se ouviu foi um uníssono fora Temer! Quero ver se bollsonaro se eleger, quando esse público descobrir que as metas econômicas e sociais da besta são as mesmas de Temer.
como sempre com cometários tão profundos como um pires e claros como um poço de piche !!!! os petistas criaram um caldo de cultura politico em que vicejou o coiso e agora estão vendo a ditadura voltar legalizada e legitimada !!!!
Incrível, o Brasil tem 500 anos e Depois de 14 anos no poder virou culpado de tudo que existe no Brasil. Comentário medíocre
Allende saiu morto do palácio do governo resistindo ao golpe…. Lula fez aquela pantomina e se entregou aos seus algozes…. o “coiso” foi parido pela frustração e desilusão de grande parte da população com o PT ao se aliar com a banda podre da politica… tinha apenas um projeto de poder e não um projeto de sociedade…. simples assim… está colhendo o que plantou…. easy this way…..
Parabéns pelo texto.falou tudo,e pena que o povo já aceitou a tática nazista de campanha.