Poesia. Água e cloreto de sódio

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Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente;
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio
experimentei ao lume,
de todos às vezes
deu-me o que é costume.

Nem sinais de NEGRO,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo),
e cloreto de sódio.

– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

De António Gedeão, poeta português.

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2 Responses to Poesia. Água e cloreto de sódio

  • É verdade Maralice, é verdadeiramente lindo ! Também acho, mas o poeta português Antônio Gedeão, autor desta poesia, ou nesta obra prima, o sabor, imagens genéticas herdadas na árvore geneológica de cada ser, emoções (não se chora de graça), usou de uma metáfora (preta) ao personalizar a poesia. Foi realmente magnânimo, e sem ser analista químico ou bioquímico, seu conteúdo da lágrima da Pedra (da criatura humana – mulher); está certíssimo e assino embaixo. Qual é o comentário mesmo ? Há sim ! Se é preta ou branca ? Qual é sua cor ? Eu acho que sou uma mistura …, pardo ? Parabéns Jeso Carneiro, por ter postado essa poesia que expressa a grandeza de cada um e de todos (as) que se igualam, aos seus semelhantes; na vontade de Deus. Com esta poesia faço minha homenagem póstuma ao líder da luta pela justiça e igualdade de cor racial e ao meu colega perito criminal Hélio Roberto Gonçalves e sua família (tidos como afrodescendetes). Louvado seja Deus ! Amém ou Aleluia !

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