Livro que reúne crônicas do tapuio Jorge Ary Ferreira marca sua estreia na literatura

Publicado em por em Crônica, Óbidos, Pará

Livro que reúne crônicas do tapuio Jorge Ary Ferreira marca sua estreia na literatura
Jorjão, ativista cultural tapuio nascido em Óbidos (PA). Foto: Facebook

Ativista cultural obidense, Jorge Ary Ferreira, o Jorjão, faz a sua estreia na literaturana próxima semana (dia 29) com o lançamento do livro Histórias de um tapuio pauxi, em Belém (PA), no espaço Savieira Cultural, a partir das 19h.

A obra reúne crônicas escritas pelo ex-tabelião e empresário botafoguense. Aenne Bentes, professora, fez um relato crítico-literário do livro, antecipando o que o leitor e a leitora irá saborear nas páginas escritas pelo tapuio pauxi.

Leia a análise:

Histórias de um tapuio pauxi é uma coletânea de crônicas, a estreia de Jorge Ary na literatura. Reúne histórias entremeadas de eventos do cotidiano, relatos de acontecimentos de caráter histórico, da micro- história de Óbidos e dos pauxiuaras. Histórias recheadas de peculiaridades, contadas num tom anedótico e brejeiro.

Vale lembrar que a palavra “crônica” tem sua origem na palavra grega khrónos, da qual proveio o termo chronikós, que significa “relacionado ao tempo”.

Leia de Jorge Ary Ferreira: A culpa é sua, Babá.

Nesses tempos modernos, a crônica costuma ter uma linguagem leve e, por ser marcada pelo estilo próprio de cada autor, tende a ser representada pela coloquialidade. E Jorge Ary, que costuma dizer não ter tido nenhuma intenção de fazer literatura, imprime em seus textos uma linguagem que fala bem perto do modo mais natural de contar uma história, de contar um “causo”.

Lendo uma história desse tapuio, sem perceber, varamos em fatos históricos vestidos de costumes, como o de um meninote a vender picolé e minibom pra modo de ajudar nas despesas de casa… E a um pedaço, subimos a bordo da traquinagem de adultos, que disputam a ligeireza de seus batéis, e singramos o Mar Dulce! Pro rumo da esquerda, nos juntamos aos puxiruns de solidariedade do povo Pauxi, malinado por um Verde- oliva, que por inveja e cobiça roubou-lhe as terras.

Aqui somos envolvidos no desassombro, valentia e destemor dos pauxiuaras, quando lemos que esse povo não esmoreceu, não perdeu as forças, mas agigantou seu entusiamo e mostrou coragem – e, com vigor, unido, salvou suas plantações e suas criações.

Nas crônicas de Jorge Ary há uma radiografia de um certo tempo. Há o encanto dos tempos na vida do povo e de lugares do município de Óbidos. Ao narrar as atividades do dia a dia de pessoas simples, ao versar sobre eventos culturais, aspectos da vida na cidade, caminhar nas ruas, vogar rios, no comportamento solidário dos pauxiuaras, tudo isso enriquece várias áreas do conhecimento, como a História, a Antropologia, a Sociologia… E é aqui que a Literatura complementa ou, no mínimo, pode ser usada como fonte de informação para várias ciências, e se transforma em um testemunho de determinado período.

Antônio Candido diz que a crônica tem um “ar de escrita casual” porque se adapta muito bem à sensibilidade da vida, e Afrânio Coutinho completa, afirmando que a crônica possui uma linguagem que “fala de perto ao nosso modo mais natural de ser”.

É essa fala, de um exímio contador de histórias, que vamos ouvir nas mais de quatro dezenas de crônicas neste primeiro livro de Jorge Ary.

O leitor pode escolher para ler as crônicas na sequência ou cutucar uma, pescar outra, começar lá em riba, ir para outras paragens ou, em caso de precisão, para desapertar, quebrar pras proximidades da Barreira e deleitar-se com a invejável e sofisticada construção da sentina do Pote e ficar espiando as embarcações que am no Rio Mar…

➽➽ Aenne Bentes, pauxiuara, professora e revisora de textos literários.

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