Jeso Carneiro

O “fascismo eterno” vestido com trajes civis 216h5w

por Josué Vieira j1b6u

Longe de usar e validar a velha formula capital do “Mito”, cuja funcionalidade transforma as emoções inominadas em sentimento catártico do “Adeus”, estabelecendo tão logo uma permanente continuação da Imagem, neste caso de uma longa duração da “Identidade”, como ela estivesse insepulta na inflexível ética do afixo “In”, incompleta, inominada, imperfeita, inacabada…

Quando se lê Umberto Eco esse “Mito” se aproxima do “imbecil”, torna-se mínimo em sua posição social, mas com um poder inimaginável de influenciar os estratos médios do saber humano.

O “Mito” e o “imbecil” dividem a cadeira social a que estão dispostos.

O “imbecil” é mais ágil, se transforma a cada ato de Autoridade, que o faz dado de programação do cotidiano. O “Mito”, infelizmente, precisa da morte para aparecer, mesmo que os eleitos a tal posto ainda resistem a calcificação na História, “Mito” e “Morte” brindam a Autoridade com novos fundamentos para o “imbecil”.

Então, para mim que pisa no mesmo chão dos “órfãos do Eldorado”, na mesma geologia amazônica de mais de 1.200 anos e convivo com os mesmos problemas topográficos, sanitários, comunitários dos meus anteados do tempo das vilas ao longo do beiradão do Amazonas.

Ler Umberto Eco é conviver com um misto de “Mito” e “imbecil”. É, ao mesmo tempo compreender-se existencialmente por uma “Verdade Escrita” do conhecimento humano e conviver com a eterna presença desse ausente “imbecil”.

Nosso “Mito” é o “Ausente”, e nosso “imbecil” é o “Acreditar”!

Por isso é mais fácil visualizar a formação da Autoridade nesses meandros conjuntivo de personas, egos, prestidigitações e outras coisas mais do reino da doçura e da docilidade plena. A Autoridade é o “facismo eterno” vestido com trajes civis.

Em “Ur-Fascism”, de Umberto Eco, escrito para uma conferencia na Universidade Columbia em Abril de 1995 por comemoração dos 50 anos do fim da II Guerra Mundial, publicado originalmente no “The New York Review of Books” em 22 de Junho daquele ano (LINK: https://www.pegc.us/archive/Articles/eco_ur-fascism.pdf).

Traduzido para o português por Eliana Aguiar em 1998 com o titulo “O Fascismo Eterno”, para constar na coletânea de conferencias do autor “Cinco Escritos Morais” (Ed. Record).

Na ocasião contextual da escrita do texto, 1995, os Estados Unidos viviam o calor dos atentados a bomba ocorridos na cidade de Oklahoma e da descoberta de células terroristas de extrema direita atuando naquele País, que, diga-se, futuramente nos anos 2000 os ingressos nesses círculos de extrema direita seriam recambiados pelo Exercito norte-americano para lutar “contra o Terror” no Afeganistão e no Iraque, comprovação disso é só assistir os quilos de documentários sobre os soldados que atuaram no Afeganistão (2001) e no Iraque (2003) e prestar atenção na origem deles e no pré-treinamento recebido através da “cultura do rifle”.

Após a morte de Umberto Eco na última semana, 19/02, aos 84 anos, o texto volta flutuando na surfing web através de citações, de escritas do “ouvir-dizer” e assim o texto penetra os campos de nossa democracia virtual (LINK: https://jesocarneiro-br.parainforma.com/conteudo/samuel/43281/umberto+eco+14+licoes+para+identificar+o+neo-fascismo+e+o+fascismo+eterno.shtml), quase como se não tivesse saído desse espaço apenas sido guardado como recado de um “Eu-ado” para um “Nosso-Ausente”, ativista virtual da imbecialidade nossa de cada dia.

Por quê?

Valho-me dos seguintes tópicos presentes no texto para essa resposta:

“3. O irracionalismo depende também do culto da ação pela ação. A ação é bela em si, portanto, deve ser realizada antes de e sem nenhuma reflexão. Pensar é uma forma de castração. Por isso, a cultura é suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas. Da declaração atribuída a Goebbels (“Quando ouço falar em cultura, pego logo a pistola”) ao uso frequente de expressões como “Porcos intelectuais”, “Cabeças ocas”, “Esnobes radicais”, “As universidades são um ninho de comunistas”, a suspeita em relação ao mundo intelectual sempre foi um sintoma de Ur-Fascismo [“Fascismo Eterno”]. Os intelectuais fascistas oficiais estavam empenhados principalmente em acusar a cultura moderna e a inteligência liberal de abandono dos valores tradicionais.”

Quando afirma que “uma das características dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias”:

“6. O Ur-Fascismo provém da frustração individual ou social. O que explica por que uma das características dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos. Em nosso tempo, em que os velhos “proletários” estão se transformando em pequena burguesia (e o lumpesinato se auto exclui da cena política), o fascismo encontrará nessa nova maioria seu auditório.”

Por isso dessa onda melindrosa de intolerâncias emergentes?

“4. Nenhuma forma de sincretismo pode aceitar críticas. O espírito crítico opera distinções, e distinguir é um sinal de modernidade. Na cultura moderna, a comunidade científica percebe o desacordo como instrumento de avanço dos conhecimentos. Para o Ur-Fascismo, o desacordo é traição.

5. O desacordo é, além disso, um sinal de diversidade. O Ur-Fascismo cresce e busca o consenso desfrutando e exacerbando o natural medo da diferença. O primeiro apelo de um movimento fascista ou que está se tornando fascista é contra os intrusos. O Ur-Fascismo é, portanto, racista por definição.”

Com isso retorno a provocação, nosso “Mito” é o “Ausente”, e nosso “imbecil” é o “Acreditar”!

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